Demonstrações Financeiras da sua empresa: Como ler e interpretar
Gerir bem uma empresa implica ter uma organização contabilística que nos permite avaliar a sua saúde económica e financeira em determinados momentos. Para isso, é necessário saber ler e interpretar da melhor maneira três documentos contabilísticos das Demonstrações Financeiras da sua empresa.
O saber não ocupa lugar, portanto, não tem que ser uma pessoa com formação nesta área. Confira as nossas dicas!
Quando o nosso objetivo é conhecer a situação financeira de uma empresa de forma clara, devemos recorrer aos documentos contabilísticos que revelam de forma fidedigna o estado atual de uma empresa, permitindo ter a noção exata da evolução da mesma através de análises comparativas como também obter dicas importantes quanto ao futuro.
A generalização do uso das tecnologias, quer pela crescente oferta quer pela vertente investimento, havendo ferramentas mais acessíveis, permite-nos através do recurso a softwares de apoio à gestão obter informação económica e financeira de qualidade em qualquer momento. O problema já não é o acesso à informação, mas sim, de como lê-la e interpretá-la.
Ficam as nossas dicas sobre como ler e interpretar as principais demonstrações financeiras da sua empresa:
Demonstrações Financeiras: Balanço
O balanço representa a situação patrimonial da empresa (ativos, dívidas e capital), num determinado período contabilístico (trimestre, semestre ou ano).
O balanço de uma empresa divide-se em três categorias – ativo, passivo e capital próprio – podendo o mesmo ser representado graficamente da seguinte forma:
Fonte: Softwares de Gestão RCR
O ativo é aquilo que a empresa possui e que é suscetível de ser transformado em dinheiro. É o caso das disponibilidades (dinheiro e depósitos bancários), créditos sobre clientes, stocks, equipamentos, instalações, etc.
O passivo mostra quais são as dívidas que a empresa detém, geralmente obtidos através de financiamentos externos, tanto de médio e longo prazo, como de curto prazo (bancos, fornecedores, estado, etc).
O capital próprio, corresponde ao capital pertencente aos sócios da empresa. Ou seja, representa o investimento realizado pelos proprietários na empresa, adicionando lucros ou deduzindo prejuízos, obtidos ao longo dos diversos exercícios.
O pilar base da contabilidade diz que o ativo tem de ser igual à soma do passivo e do capital próprio. Por outras palavras, aquisição do património da empresa (ativo) tem que ser financiada por capitais próprios (capitais dos sócios) ou por capitais alheios (passivo).
Outro aspeto fundamental é a relação entre ativo circulante e passivo de curto prazo (refira-se exigível a menos de um ano). Se o ativo circulante for superior ao passivo de curto prazo, a empresa evidencia condições para satisfazer os seus compromissos de curto prazo apresentando uma saudável tesouraria. Caso contrário, é provável que a empresa tenha necessidade de recorrer a empréstimos de curto prazo (contas correntes ou outros instrumentos) para saldar as suas dívidas mais imediatas e obter liquidez.
O conjunto das dívidas de curto, médio e longo prazo, que têm implícito o pagamento do custo dessa mesma dívida (taxa de juro) designa-se por “passivo financeiro” (exemplo: financiamentos obtidos junto de instituições bancárias – contas correntes, contratos MLP, leasing, etc).
O passivo tanto pode ser de curto como de médio e longo prazo. O conjunto das dívidas que não têm uma natureza financeira designa-se “passivo corrente”, uma vez que são provenientes da própria atividade da empresa. Exemplos de rubricas de passivo corrente são dívidas a fornecedores, ao estado e outros débitos decorrentes da atividade operacional da empresa. Regra geral o passivo corrente é de curto prazo, por conseguinte, exigível a menos de um ano.
Demonstrações Financeiras: Demonstração de Resultados
A demonstração de resultados (DR) é outro dos documentos mais importantes da contabilidade geral das empresas.
A DR coloca em evidência os proveitos e custos que ocorrem ao longo de determinado período de tempo (trimestres, semestre ou ano) e o resultado é a diferença entre eles, sendo que:
- Proveitos – Custos = Resultados; Se:
- Proveitos > Custos = Resultado Positivo (Lucro)
- Proveitos < Custos = Resultado Negativo (Prejuízo)
Fonte: Softwares de Gestão RCR
1.EBITDA é o resultado antes de juros, impostos, provisões e amortizações.
Também designado por excedente bruto de exploração, corresponde assim aos proveitos menos os custos operacionais que implicam entradas e saídas de dinheiro (excluem-se as amortizações e provisões).
Pode ser visto como outra forma de expressar o cash-flow (liquidez), ou seja, é um indicador da capacidade da empresa gerar fluxos de caixa oriundos da sua atividade normal.
2.EBIT é o lucro antes de encargos financeiros (pagamento de juros) e impostos. Este indicador reflete os resultados da empresa antes das deduções financeiras e fiscais.
A designação do EBIT em português não é uniforme. Sendo vulgarmente designado por “resultado operacional”, pode-se também encontrá-lo referido como “resultado operacional líquido”, “resultado de exploração”, “resultado líquido de exploração”, “resultados antes de impostos”, “resultados antes de juros e impostos (RAJI)”, “lucro operacional”, “lucro operacional líquido”, “lucro de exploração”, “lucros antes dos impostos”, “ganho líquido por exploração” e “função financeira”.
3.Resultado Líquido resulta da soma das componentes anteriores.
Demonstrações Financeiras: Demonstração dos Fluxos de Caixa
A demonstração de fluxos de caixa (DFC) de uma empresa integra-se no conjunto das demonstrações financeiras e tem como objetivo proporcionar informações sobre os recebimentos e pagamentos da mesma ocorridos durante determinado período. Esta demonstração fornece a base necessária para identificar e avaliar a capacidade da empresa em gerar e utilizar os seus fluxos financeiros, demonstrando ser um documento fundamental para os processos de decisão.
Este documento não se encontra sujeito à política de amortizações e provisões, tornando-o mais objetivo, permitindo ao analista detetar mais facilmente quer o potencial futuro do negócio quer as necessidades de tesouraria.
A DFC apresenta três grandes categorias de fluxos:
- Atividades operacionais;
- Atividades de investimento;
- Atividades de financiamento;
Conjuntamente, estes três fluxos permitem explicar a variação em caixa e seus equivalentes.
A DFC é o “manual” da gestão da tesouraria de uma empresa. A gestão de tesouraria de uma empresa deverá ser rigorosa e advém de dois aspetos fundamentais: as despesas e receitas ocorrerem em momentos distintos e, em muitos negócios, não existe uma coincidência temporal entre o momento da concretização da compra (ou venda) de um bem e o seu respetivo pagamento (recebimento).
Pelos motivos apresentados pode ser que uma empresa, aparentemente viável a médio e longo prazo, possa ter dificuldade em saldar as suas dívidas de curto prazo. Por isso é recomendável uma empresa ser saudável tanto do ponto de vista económico como do financeiro.
Autor: Rogério Rêga (Contabilista Certificado e Gestor de Empresas) – Ver perfil Linkedin